O Mercado Ilegal e a Dificuldade em Vender Tesouros
Os ladrões que conseguiram fugir com um valioso conjunto de joias do Louvre enfrentam um grande desafio para lucrar com o crime. O governo francês avaliou essas peças, incluindo uma tiara minuciosamente trabalhada e um colar de safiras que pertenceu à realeza, em aproximadamente US$ 102 milhões. No entanto, segundo Stephen Portier, um reconhecido mestre joalheiro e avaliador parisiense de gemas, o valor dessas joias pode despencar se forem desmontadas.
“Se as joias forem retiradas de seus engastes para serem vendidas no mercado negro, o valor pode cair até 90%”, afirmou Portier. A situação é alarmante não apenas pela perda das peças em si, mas também pela dificuldade de os criminosos conseguirem vender algo tão reconhecível e valioso. Com a repercussão do roubo, o mercado de joias finas, embora grande, é uma rede bem pequena e interconectada.
Expectativas em Relação à Recuperação das Joias
Portier e muitos de seus colegas na indústria da joalheria ainda guardam uma esperança cautelosa de que a polícia consiga recuperar as joias sem que elas sejam danificadas. Contudo, ele é realista quanto às chances de isso ocorrer. “Com toda a atenção que o caso está recebendo, será extremamente difícil para os ladrões venderem as peças na forma em que estão. O ato de comercializá-las será altamente ilegal”, acrescentou.
“No mundo das pedras preciosas, todos se conhecem. O roubo do Louvre não é algo que será facilmente esquecido”, continuou Portier. Ele acredita que qualquer revendedor que receba uma joia desse roubo provavelmente terá uma cópia da descrição de cada peça em seus arquivos e, ao perceber que estão lidando com materiais roubados, não hesitarão em contatar as autoridades.
A Singularidade das Peças Roubadas
As joias roubadas não são apenas valiosas em termos monetários, mas também possuem características únicas que as tornam facilmente identificáveis. O Louvre deve ter registros detalhados das propriedades de cada gema, como peso, cor e as pequenas imperfeições que podem ser consideradas como o “DNA” de cada pedra. O roubo, que ocorreu de forma ousada com os ladrões entrando por uma janela e quebrando caixas de vidro, resultou na subtração de nove preciosidades, uma delas sendo a coroa da Imperatriz Eugenie, que foi acidentalmente deixada para trás.
Um exemplo notável entre as peças roubadas é um broche em forma de arco adornado com uma série de pequenos diamantes, que também apresenta um desafio único para os ladrões. Portier explica que as pedras, mesmo as menores, possuem uma identidade que é difícil de se ocultar. “Essas joias têm mais de um século e foram cortadas em um estilo característico da época, tornando-as ainda mais reconhecíveis”, disse ele.
Os Riscos de Alterações nas Joias
Embora seja teoricamente possível para os ladrões tentarem modificar as joias para disfarçar sua origem, isso vem com riscos. Uma técnica mencionada por Portier é o descascamento de pérolas, que pode torná-las irreconhecíveis, mas também pode arruinar o valor da gema. “Utilizando um solvente como fragrância ou spray de cabelo, é possível dissolver a superfície da pérola, escondendo pequenas rachaduras. Porém, esse procedimento é arriscado, pois pode expor uma camada inferior de cor indesejável, desvalorizando-a significativamente”, alertou.
Com o reconhecimento global do roubo e as complicações da venda das joias, a pergunta que fica é: por que os ladrões se colocaram em risco ao cometer um crime tão audacioso? “É uma boa pergunta”, concluiu Portier, deixando em aberto a reflexão sobre as motivações por trás de tais atos ilícitos.
